Reportagem do Primeira Página conversou com algumas para saber sobre seus principais anseios, entre elas, a presidente da Adepol-MS, Delegada de Polícia Aline Gonçalves Sinott Lopes. Confira:
O pai da psicanálise até tentou, mas não conseguiu responder a pergunta que ele mesmo fez em 1932: “afinal, o que querem as mulheres?”. Freud não explicou e o Primeira Página também não ousou resolver a questão. Entretanto, a reportagem conversou com diversas pessoas sobre o assunto e as respostas dão indícios sobre a importância que as mulheres dão para o respeito, a igualdade e o desejo de serem ouvidas.
Viver em segurança, com direitos garantidos
A advogada e subsecretária Estadual de Políticas Públicas para Mulheres, Luciana Azambuja Roca abre a reportagem reforçando a necessidade da ampliação de direitos. Ela comemora alguns avanços, mas diz ser preciso avançar no combate ao preconceito, à violência doméstica, ao assédio moral e sexual.
“Nosso maior desejo, o de todas as mulheres, é o respeito. Respeito ao nosso direito de viver sem violência, de votar e sermos votadas, de fazermos nossas próprias escolhas, de termos um ambiente de trabalho saudável, com igualdade salarial entre homens e mulheres no mesmo cargo. Respeito não só no dia 8, mas em todos os outros dias”.
Luciana Azambuja Roca, subsecretária Estadual de Políticas Públicas para Mulheres.
“O que de fato nós queremos é igualdade real em poder de decisão, de compartilhamento de decisões. Como disse Ruth Bader, ‘Não queremos favores para nosso sexo, nem sermos colocadas em um pedestal. Apenas que tirem o pé dos nossos pescoços’”.
Aline Sinott, delegada da Polícia Civil e presidente da Adepol-MS (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de MS).

O que espero é que reduzam os índices de feminicídio tão estarrecedores. Atendi muitos casos de violência contra a mulher, mas o feminicídio aumentou muito. Espero que diminua o número de mortes porque nada justifica matar alguém, principalmente as mulheres que só querem viver a vida delas.
Zenóbia da Silva Pedrosa, delegada aposentada. Foi a titular da 1ª delegacia da Mulher de Mato Grosso do Sul.

A conquista da igualdade que nós estamos tentando há mais de um século porque mulheres ainda ganham menos que os homens, ocupam menos espaços no campo de trabalho, ocupam menos espaços do campo da política. Então nós, todas as mulheres com todas as suas especificidades, precisamos cada vez mais de tratamento igualitário, homogêneo e o respeito acima de tudo. Nós deixamos de ser donas de casa, deixamos de ser apenas as mulheres do lar ou aquelas esquecidas pela sociedade. Somos portadoras de direito e queremos nosso respeito reconhecido e garantido.
Amanda Anderson, Presidente Nacional do PDT Diversidade e 1ª advogada transexual de Mato Grosso do Sul.
”Se usarmos, literalmente, o significado da palavra igualdade quando falamos de homens e mulheres, percebemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido. São anos de lutas, seja no contexto social, de gênero, de trabalho ou de direitos. Muito já mudou e nós estamos ocupando campos que jamais foram habitados pelo feminino. Empoderar mulheres é demonstrar a grandiosidade que há em um ser humano capaz de exercer diversos papéis, equilibrando a firmeza e a ternura numa proporção capaz de mudar mundo. Nossa luta é por dias melhores, com mais respeito, empatia e igualdade. Que esta seja a nossa bandeira não apenas em 8 de março, mas em todos os dias do ano. Eu desejo que todas as mulheres percebam que vieram ao mundo para vencer.
Neidy Centurião, 1ª mulher a ocupar o posto de Coronel da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul)
Acessibilidade
“Enquanto a mulher com deficiência o que quero é um presente acessível e um futuro acessível. Não eapenas acessibilidade arquitetônica, mas acessibilidade global que envolva toda a nossa vida, todas as atividades, ações, na escola, trabalho, lazer, viagens, educação. Acessibilidade nos órgãos públicos, acessibilidade na sociedade porque sem acessibilidade a gente não consegue. A gente tem que se adaptar a sociedade. É isso que a gente faz! Não é a sociedade que proporciona acessibilidade para que a gente possa se sentir como todas as outras pessoas, sem a necessidade de estarmos lutando. Se a gente tivesse a sociedade totalmente acessível, em todos os âmbitos da nossa vida a gente passaria despercebidas porque não estaria com tantos problemas”.
Mirella Bellatore, presidente associação Mulheres com Dificiência de Mato Grosso do Sul.
Leveza e plenitude
“Que nós possamos ser plenas. Acho que essa palavra define o meu sentimento e o meu desejo porque nós vivemos em uma sociedade que sempre cobrou demais das mulheres e sempre estipulou padrões físicos, comportamentais, sempre tentando moldar as atitudes. Isso pode, mulher. Isso não fica fica legal para uma mulher direita, uma mulher de índole. Que nós possamos ser plenas e que nós possamos entender que somos falíveis. Não dá para ser 100% do tempo uma ótima filha, uma ótima mãe, uma ótima esposa, uma ótima profissional, uma ótima amiga. Que nós possamos no final do dia estarmos tranquilas, estarmos em paz e podermos nos sentir bem, leves, felizes. A cobrança social é muito forte, mas a cobrança pessoal ela é mortal e as mulheres têm isso muito mais aflorado. Que possamos, sim, nos cobrarmos para sermos pessoas melhores, mas que não tentemos a todo tempo nos encaixar no que querem que nós sejamos. Que sejamos apenas aquilo que nos faz felizes, plenas, saudáveis, tanto fisica, quanto mental, quanto espiritualmente sem nos preocuparmos tanto com o que a sociedade espera de nós”.
Patrícia Maria de Resende Sant’Anna
40 anos
Anseio que nos tirem os padrões pra que possamos existir fluidas e livres de tantas responsabilidades criadas por um sistema patriarcal. Desde crianças ou ainda no ventre, uma série de expectativas são colocadas sobre nossos corpos, sem considerar quem realmente vamos querer ser, do que vamos gostar, por quem vamos nos interessar, qual tipo de carreira seguiremos, se desejaremos ser mães ou não.
Desejo que nossa luta não se baseie na história de algumas privilegiada, mas atenda às mulheres com menos acesso, mulheres de periferias, mulheres transexuais, com deficiência, indígenas e negras, gordas e magras, mães. Desejo uma luta interseccional pois nunca seremos realmente livres enquanto algumas de nós ainda estiverem aprisionadas.
Marina Peralta, cantora e compositora.
“Eu desejo para mim e para outras mulheres o respeito, independente do que cada uma vive ou passa, independente de cor, raça ou religião. Tem mulher que julga a outra, mas todas são mulheres e todas estão lutando pela sobrevivência. Respeito é a melhor coisa a desejar. Saúde também para mim e para todas as outras”.
Rafaela Dias, garota de programa, 29 anos.
“O que eu almejo é justiça social para as mulheres. Me deixa devastada e chateada ver como alguns seres humanos tratam as mulheres. Jesus desviou do seu caminho para responder a oração de uma mulher que nem judia era, era samaritana (À época judeus e samaritanos não se falavam, conforme relato da Bíblia Sagrada). Quando queriam apedrejar outra, Jesus aconselha, mas não a condena. Se o próprio Deus teve essa coragem, quem somos nós para maltratar uma mulher ?
Veronice Lopes de Souza Braga, professora e missionária da Igreja Adventista do 7º Dia
“Para todas as mulheres desejo coragem, força e fé nessa missão de atuar na sociedade, tanto em suas aldeias quanto fora delas, mostrando ao mundo que a luta contra a opressão é uma luta também de ocupação. Muitas são pioneiras em suas atividades ocupando diversos espaços e tornando-se referência para outras mulheres, indígenas e não-indígenas. Seja em equipes médicas, gabinetes parlamentares, canais de comunicação, associações, empreendimentos, seja integrando equipes criativas, salas de aula, museus, passarelas, o lugar das mulheres é onde elas quiserem e, se depender do espírito de luta destas guerreiras, vai ter ainda mais mulher indígena por aí”.
Benilda Kadiwéu, designer de moda e estilista.
Respeito para todas é isso que desejo! Na hora do parto, de gestar, de amamentar. Que nessa hora da mulher todas consigam o que for melhor para elas e para os filhos. As mulheres estão sendo muito sacrificadas. Além do profissional, são mães, administradoras da casa. Que todas consigam equilibrar todos esses ‘pratos’ porque não é fácil.
Maria dos Santos, doula aposentada.
“Eu penso que o mais importante de tudo é que a gente possa ser feliz. Esse é o grande mote da nossa vida. Têm as mulheres que querem ficar em casa e cuidar dos filhos e tá tudo bem. Têm as que querem ser excelentes profissionais e estão lutando para isso no ambiente de trabalho. Que cada uma delas seja respeitada e conquiste seu espaço com dignidade. A sociedade machista, sexista, coloca a mulher em um espaço que não é o dela. Lugar de mulher é onde ela quiser, como ela quiser, sendo respeitada. As pretensões não são as mesmas, mas o respeito tem que ser seja para brancas, negras, indígenas, para todas. Respeito acima de tudo”.
Bartolina Ramalho Catanante, professora universitária e presidente do grupo TEZ (Trabalho e Estudos Zumbi).
Fonte: Primeira Página MS